Início.

E de todas as histórias contadas, essa é especial.

E numa dessas noites rotineiras, deitei na cama e fechei os olhos, ao abrir estava em outro lugar. Tudo me parecia familiar... Sim, eu sabia onde estava. Era minha família que estava ali, todos festejavam algo que não sabia o que era, mas família reunida não tem preço. Tudo era festa, todos bebiam, dançavam e riam.

De repente, a chuva veio e começamos a festejar aquela bênção que vinha dos céus, era uma chuva calma, parecia uma purificação da alma e aquilo me fazia muito bem. Mais uma vez fechei os olhos e deixei fluir. Entreguei-me àquele momento. Aquele sonho me fazia bem. Era muito real.

Mas a chuva não era mais tão calma, agora era agressiva, parecia estar vingando algum erro que eu havia cometido. Abri os olhos e estava só. A música ainda soava, podia ouvir as risadas das pessoas, mas estava só. Isso muito me angustiou. E uma onda me derrubou. Muita água, tudo muito escuro, gritava, mas ninguém parecia me ouvir. Afundei e aquela água cada vez me levava para mais longe. O sonho que tanto me acalmava, agora não mais me fazia feliz. Queria acordar. Podia sentir meu corpo reagir àquela situação. Mas nada parecia adiantar. Olhava para os lados... Por que ninguém podia me ouvir? Por que todos pareciam alheios à minha angústia? Chorei. Não suportei e caí. Deixei que a água me matasse. A luz apagava-se e perdia meus sentidos. A vida ali se esgotava.

Senti uma mão me segurar, sorri, seria meu anjo me recebendo nos céus? Não! Era alguém que queria me tirar dali. Eu ainda estava viva! Olhei para ver quem me salvava, era a visão de um anjo. Ele chorava, temia pela minha vida. Por quê? Podia ouvir seus batimentos rápidos. “Por favor, aguente mais um pouco. Não morra. Não desista. Estou aqui. Desculpa pela demora.” Ele me falava. E carregando-me em seus braços, levou-me a uma sala que jamais eu havia visto, repousou meu corpo na cama. Eu estava fraca. Não conseguia manter meus olhos abertos. Ele ajoelhou-se, segurou minha mão, e chorou. Sentia muito frio, e estava tonta. Aquela voz chorosa, aquelas lágrimas, aquele desespero... Ele me deu forças para reagir. Abri os olhos e agradeci. Ele apenas sorriu. O sorriso mais lindo, aquele em que os olhos e o coração correspondem aos lábios. Aquele sorriso que jamais havia visto, aquele que era só dele, aquele sorriso que jamais esqueceria. Ele me abraçou – aquele abraço quente, aquele abraço que parecia me manter segura para o resto da vida – e disse: “Acorde e me procure. Eu te espero. Eu preciso de você.”

Pude ouvir aquela música familiar, era meu despertador, havia acordado.

Foi um sonho. Toquei minhas mãos, ainda podia sentir suas mãos nas minhas. Fazia frio, mas um abraço quente ainda me envolvia. Fechei os olhos, e senti seu cheiro. Foi real. Foi o sonho mais lindo que já tive.

                                                                                               Marcelle Medeiros.

1º post dedicado à Julianna Adam.